4x4 Recife

26 maio 2006

Curiosidade - Jipe original 4x2


O irmão mais valente do Fusca

O jipe Volkswagen 181, chamado de Thing (coisa) nos EUA, venceu as limitações e conseguiu sucesso internacional.

Fonte: Best Cars Web Site.
Texto: Fabrício Samahá - Francis Castaings.
Fotos: divulgação

As ligações do Volkswagen com as forças militares alemãs vêm de longe: não fossem os utilitários dele derivados (o jipe Kübelwagen e o anfíbio Schwimmwagen, o projeto do Fusca talvez não tivesse sobrevivido à Segunda Guerra Mundial. No entanto, passado o período em que as indústrias automobilísticas eram destinadas à produção bélica, esse lado do "carro do povo" caiu no esquecimento. Nem mesmo a concorrência do exército local para um pequeno jipe, em 1954, despertou o interesse da VW. Seu presidente, Heinz Nordhoff, julgou inviável construir um veículo em pequena escala. O vencedor da licitação foi o Munga da DKW.

Na década de 1960, porém, Alemanha, Itália e França lançavam um novo projeto de veículo fora-de-estrada com tração nas quatro rodas, conhecido como Europa Jeep. Enquanto isso, o Bundeswehr (exército alemão) procurava um sucessor para o já superado Munga. Desta vez a VW interessou-se e, enquanto desenvolvia sua proposta de jipe 4x4 (que resultaria no Typ 183 ou Iltis), criou um modelo de tração traseira para os militares de seu país.
O modelo militar, lançado em 1969, era uma versão atualizada do Kübelwagen usado na guerra e, apesar da tração apenas traseira, teve amplo uso pelo exército de vários países. Em agosto de 1969 iniciava-se a produção do Typ (tipo) 181. Era praticamente uma atualização do Kübelwagen de três décadas antes. Entre as diferenças estavam portas articuladas à frente (eram "suicidas" no modelo original), pára-choques, câmbio com marchas sincronizadas, estepe sob o capô dianteiro, faróis integrados aos pára-lamas e não montados sobre eles, capota rígida opcional, um painel digno do nome e a opção de aquecimento interno.

Baseado em componentes dos utilitários da marca, o pequeno jipe não podia contar com tração nas quatro rodas, mas oferecia opção de diferencial autobloqueante, para melhorar o desempenho fora-de-estrada, e tinha boa capacidade de carga, 400 kg. Apesar das limitações em condições de tráfego mais severas, servia bem a aplicações como veículo de comando, patrulha, despacho e rádio: era o que o exército considerava um Mehrzweckwagen, um veículo de múltiplo propósito. Além da alemã, outras forças armadas tornaram-se mercado do 181: Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Holanda, Inglaterra, Marrocos, Portugal, Suíça.

Percebendo o interesse do mercado civil por um veículo simples e robusto que chegasse onde o próprio Fusca não poderia ir, a Volkswagen tratou de oferecer uma versão ao público comum. Na maioria dos países foi vendida como VW 181, mas o México a chamava de Safári e os Estados Unidos, curiosamente, de Thing (coisa). A intenção da empresa, de chamá-lo Safári em toda a América, esbarrou na propriedade desse nome pela Pontiac, que o usava em peruas desde 1955, levando à mudança naquele mercado. Na Inglaterra, as concessionárias rejeitaram Thing e fizeram um concurso para escolher outro nome, em que Trekker foi o eleito.

Nos EUA, assim como no México, a "coisa" era anunciada como um veículo de lazer, assim como os bugues que há tanto tempo fazem sucesso no Nordeste brasileiro. Dentro dessa proposta a fábrica destacava a capota conversível (com opção por um teto rígido de plástico reforçado com fibra-de-vidro), o pára-brisa rebatível e as portas que podiam ser removidas. Cores vivas como laranja e amarelo eram oferecidas (havia também o branco) e a capota oferecia quatro tons, incluindo branco. Usava as lanternas traseiras da Kombi dos anos 60.

Embora parecesse até maior, por conta das quatro portas e das linhas retas, o 181 mantinha a distância entre eixos do Fusca e da Kombi, 2,40 metros, e era mais curto que ambos, com 3,78 m no total. Como no sedã, o estepe e o tanque de combustível (para 40 litros) ficavam na frente. O motor de quatro cilindros boxe opostos arrefecido a ar, na versão inicial de 1.493 cm³ e um só carburador, fornecia potência de 44 cv a 4.000 rpm e torque máximo de 10,2 m.kgf a 2.000 rpm — força razoável em baixas rotações, como convinha à proposta do veículo.

Um ano depois, em agosto de 1970, passava ao de 1.584 cm³, com 48 cv e 10,5 m.kgf. Com câmbio manual de quatro marchas e uma curta relação final de 4,125:1, estava longe de ser rápido: velocidade máxima de 110 km/h, aceleração de 0 a 100 km/h em cerca de 23 segundos. Mas oferecia boas respostas em baixa rotação, atributo que também contribuiu para o êxito do Fusca, mesmo nas versões de 1,1 e 1,2 litro. Os freios eram a tambor e as rodas de 15 pol recebiam pneus 165-15. A suspensão dianteira usava braços arrastados, e a traseira, semi-eixos oscilantes, ambas com barras de torção.

O jipe pesava 900 kg e oferecia razoável vão livre do solo, 205 mm, com a vantagem de não ter um diferencial protuberante no eixo traseiro, como acontecia com concorrentes de motor à frente e tração atrás. Um ano após o encerramento da produção alemã, em 1973 o jipe passava a ser fabricado no México, o que facilitou em muito sua exportação para os EUA. A publicidade da VW americana dizia que o Thing podia ser anything (qualquer coisa), isto é, um veículo adequado para a neve ou a praia, a cidade e o campo. "Quer ver um filme? Rebata o pára-brisa e você não perderá nada", convidava, referindo-se à moda dos cinemas drive-in. As maiores alterações técnicas no 181 ocorriam em março de 1973: suspensão traseira por braço semi-arrastado, novo câmbio, rodas de 14 pol com pneus 185-14. O motor passava a desenvolver 55 cv e 10,6 m.kgf e também mudavam retrovisores (antes montados nas portas, agora na própria carroceria), escapamento, sistema de aquecimento interno e tomadas de ar para o motor. Contudo, a VW não conseguiu aprová-lo para as novas normas de segurança em colisões dos EUA para 1975 e, em vez de efetuar as melhorias necessárias, preferiu abandonar aquele mercado.

Uma versão especial, a Acapulco, foi elaborada para uso na cidade mexicana de mesmo nome pelo Las Brisas Hotel. Tinha estribos, acabamento interno especial, capota em forma de toldo e pintura que combinava branco a verde, amarelo, azul ou laranja. A decoração tornou-se tão popular que a VW chegou a exportá-lo assim para os EUA. Em 1980 o Thing deixava de ser produzido. Pode-se dizer que seu conceito foi seguido por inúmeros bugues, no Brasil e no exterior, e em parte pelos jipes X-10, X-12 e Tocantins da Gurgel, que também apostavam na robustez e na simplicidade da mecânica VW "a ar" para compensar a falta de tração nas quatro rodas.

1 Comentários:

  • At 15/6/06 4:33 PM, Anonymous Anônimo said…

    É impressionante como o Coisa lembra o nosso Gurgel x-12. Ou seja, a Volkswagen brasileira, na época, se abestalhou e deixou de fabricar aqui esse carrinho que, sem dúvida, teria feito muito sucesso, como o x-12 fez.

     

Postar um comentário

<< Home