Que Rally Dakar que nada!!

Texto: Edilson Vieira

Já vi alguns colegas jipeiros reclamando do nível do rally pernambucano (né Bananeira?) porque as provas, quando acontecem por aqui, são pouco organizadas e cheias de carros velhos. Pois esse é o principal, digamos...apelo esportivo do Mongol Rally, uma epopéia inglesa que tá mais pra Corrida Maluca do que pro Rally Dakar. Veja o regulamento pra ver se dá pra tú: só podem participar carros com motor 1.0 ou abaixo disso (hein?), de preferência (muito) usados e que tenham alguma “referência engraçada” (cuma?). Motos também são aceitas, desde que não passe das 125 cc. e, segundo a organização, o ideal é que sejam do tipo lambreta (eita!). O tamanho da bronca? Nada menos que 10 mil km de prova, largando de Londres e chegando na pitoresca região de Ullam Bator, capital da Mongólia. E é por isso que essa maratona se chama Mongol Rally, pela chegada na Mongólia, e não por alguma referência a idade mental de seus participantes, seu maldoso.
Este ano, 159 equipes toparam pagar os 300 euros da inscrição e mais 1000 euros a título de doação para entidades filantrópicas (sim, sim o evento tem fins politicamente corretos...) e no último dia 22 de julho largaram para atravessar a Europa e parte da Ásia até dar com os costados ao noroeste da China. Em termos de distâncias, o Mongol Rally supera até o Dakar mas a comparação termina aí. Não há equipes de apoio nem de resgate. Planilhas? Pra quê? A organização só oferece uns roteiros tirados do Google Maps e o resto é por sua conta e risco. Posto de Cronometragem também não tem, mesmo porque os fiscais teriam que usar calendários ao invés de cronômetros para registrar a espantosa velocidade dos Citroen 2cv, Mini Coopers e Unos Mille inscritos na prova. O uso do GPS é proibido para não se ter problemas com os russos (parece que o localizador via satélite não é permitido por lá) mas cada competidor passa diariamente sua localização para os organizadores através do e-mail, celular, orelhão da esquina... Assim, é possível acompanhar em tempo real (tá bom, nem tanto...) pelo site da prova, a localização exata (ops) de cada equipe. Por exemplo, enquanto estou escrevendo esse texto, verifiquei na seção “Where are they now?” (numa tradução livre: Cadê eles?) que a equipe “Flash man”, a bordo de um Suzuki SJ 87 estava em algum lugar ao sul do Turcomenistão. Já o pessoal da “Yakata Blue” foi parar, de Fusca, no Norte da Suécia, e os aloprados da “Perdidos nas Estepes”, fazem jus ao nome e já teriam cruzado a linha de chegada com um velho Fiat Panda 4x4, caso tivessem tomado o rumo sul ao entrarem na Rússia, mas do jeito que vão, correm o risco de verem o final do verão europeu nas pirâmides do Egito. Bom, a maioria dos competidores do Mongol Rally não vai conseguir nem sair da Europa mesmo, quanto mais chegar ao destino final, mas o que vale é a gréia. Isso lembra meu início nos ralis universitários quando o rally só tinha graça se o carro quebrasse, ficasse preso num atoleiro ou o piloto tivesse dor de barriga.
Não deixem de visitar o site www.mongolrally.com, dêem uma olhada na seção gallery (tem poucas fotos, mas umas bem legais) e no blog dos participantes na página inicial (cadê o dicionário de inglês?), onde a turma conta que subornaram policiais do Kazaquistão com melões, dormiram em bordéis na Rússia e praguejaram contra os banheiros chineses. Troféu que é bom nada. Mas, pelo menos, esse pessoal vai voltar com a bagagem cheia de histórias pra contar.